quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A Harpa

A Harpa. 

 "Entramos. Ambiente simples e acolhedor. Móveis quase idênticos aos terrestres; objetos em geral, demonstrando pequeninas variantes. Quadros de sublime significação espiritual, um piano de notáveis proporções, descansando sobre ele grande harpa talhada em linhas nobres e delicadas." ("Nosso Lar" - André Luiz - Cap. 17) 

Retorno ao Nosso Lar, 
Volto à infância, venho em visita ao passado! 
Encontro ainda a mobília simples 
E quadros na parede como janelas, 
Abertas à paisagens divinas - parecem inundar de luz o ambiente. 
Há também um piano, e sobre ele, uma harpa. 
A Harpa! 
Instrumento atemporal - presença incômoda! 
- me Leva de volta à uma época ainda mais distante, - ainda mais recuada ! 
Lembranças adormecidas na minha casa mental ! 
Tenho medo de tanger a harpa ! 
Fazendo vibrar suas cordas poderei ouvir um som que me faça tremer, 
E recordar qualquer coisa longínqua, 
Mescla de pesadelo e doce sonho. 
Tenho medo de recordar caminhos esquecidos, 
No som de um instrumento que não perdoa passados, 
Qualquer coisa de escuros passados ! 
Alma culpada, 
Temo que meu passado se exponha como quadros na parede. 
Mas, que alegria: aqui eles são, em verdade, 
Imagens de caminhos abertos ao infinito. 
E uma luz branda e branca 
Em forma de vulto 
Convida-me a seguí-la. 
Será um anjo que há muito me espera? 
Deus mesmo em humana silhueta? 
 "O passado não importa" - diz o vulto -, 
"Para a alma redimida na escola do pó da carne !" 

Mas ainda assim tenho medo de tanger a harpa. 

 Janelas abertas, quadros vivos, de luz inundando o ambiente, 
Ampliando veredas para o infinito - janelas divinas ! 
Dentro do recinto, a mobília simples, o piano, a harpa - o passado! 
Lá fora, o futuro! 
Onde aquele Ser, de branda e branca luz, me sorrir, e me abre os braços amigos.

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