sábado, 15 de agosto de 2015

Reencarnação


Sibila entre as lápides da necrópole o vento triste da tarde monótona.
É um dia comum.
Ninguém vem em busca de seus mortos.
O cemitério está vazio e adormecido na melancolia do abandono !
Mas se olhos de carne aparecessem 
Não veriam a população invisível que pulula entre os túmulos.
Os seres ocultos que perambulam pelas estreitas vielas de sepulcros.
Almas angustiadas e desiludidas
Choram inconformadas sobre os despojos.
Despojos que já não lhes pertencem,
E à natureza voltam os átomos que lhes formaram.
Não vislumbram, essas almas, o horizonte infinito
De vida imorredoura que se abre adiante.
Apegadas à ultima experiência terrestre
Se jogam sobre seus restos mortais
Como a querer ressuscitá-los, 
Levá-los de volta ao baile vicioso das convenções humanas.
Delitos, crimes, descuidos morais aparecem agora em suas telas mentais.
Juízes implacáveis jogam-lhe em rosto os deslizes perpetrados.
Angustia e sofrimento.
Lágrimas amargas de revolta ou de arrependimento.
Não enxergam os bons gênios que lhes assistem no transe doloroso.
No trabalho  do alívio e esclarecimento.
Apenas se prendem ao motivo de suas desditas.
Alheios ao espetáculo belíssimo da vida infinita.
Mas Deus não descansa nunca a Sua misericórdia.
Socorre  - com Seus bons gênios - seus filhos desgraçados onde estiverem.
Novos caminhos e horizontes se abrem.
Reencontrarão a trilha perdida no colo terno de uma nova mãe.
No seio seguro de uma nova família.
Na experiência de um novo corpo humano.
Na vereda renovadora e salutar de uma nova encarnação !
Não lembrarão mais os uivos tristes do vento entre as lápides.
Não mais buscarão o corpo velho que devolve à natureza as partículas que lhes formaram.
O juiz implacável não mais lhes cuspirá em rosto os erros pretéritos.
A lembrança adormecida é o esquecimento bendito que lhes garantirá paz de espírito.
...e lhes norteará na busca dos valores eternos.
Sim, é a criança - o recém nascido, que traz alegria à família,
E satisfação aos pais exultantes,
Espírito antigo, talvez antigo comparsa,
Companheiro de distante ou recente passado !
Deus nos encandeia os destinos, nos vela,
Nos faz tomar o caminho de um progresso incessante.
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Na manhã bonita e clara, o vento sopra calmo;
O Sol entra pela janela aberta iluminando o quarto,
Onde um bebê sorri em um berço entretido com algum brinquedo,
Sob o olhar carinhoso e complacente de uma mãe feliz,
Que o guiará na nova encarnação,
Na vereda infinita que é a vida.