domingo, 23 de novembro de 2014

De Sapho para Átis

A Átis

Não minto: eu me queria morta.
Deixava-me, desfeita em lágrimas:
 "Mas, ah, que triste a nossa sina!
Eu vou contra a vontade, juro,
Safo”. "Seja feliz”, eu disse,
"E lembre-se de quanto a quero.
Ou já esqueceu?
Pois vou lembrar-lhe
Os nossos momentos de amor.
Quantas grinaldas, no seu colo,
- Rosas, violetas, açafrão -
Trançamos juntas!
Multiflores
Colares atei para o tenro pescoço de Átis;
Os perfumes nos cabelos,
Os óleos raros da sua pele em minha pele !
[...] Cama macia, o amor nascia
De sua beleza, e eu matava a sua sede”
[...] Cai a lua, caem as plêiades
E é meia-noite, o tempo passa
E eu só, aqui deitada, desejante.
- Adolescência, adolescência,
Você se vai, aonde vai?
- Não volto mais para você,
Para você não mais volto.
                                                    Safo


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Safo de Lesbos (s. VI a.C.)


Safo de Lesbos: Se calcula que nació entre el 610/605 A.C. en el seno de una familia griega aristócrata Safo es una de las primeras poetisas de las que se tenga registro. A pesar de no tener muchos datos biográficos sobre su vida se sabe que se encargó del negocio familiar poco después de morir su padre: Una academia encargada de preparar a las mujeres para el matrimonio. Safo tenía a su disposición docenas de discípulas a las que les enseñaba poesía, danza y canto entre otras cosas. Safo se enamoró de algunas de sus alumnas, y sostuvo relaciones sentimentales con ellas. Tuvo amoríos tanto con hombres como con mujeres, recordemos que en aquel tiempo la sexualidad no era un tabú social como lo es ahora. Se dice que optó por el suicidio después de ser rechazada por Faón, un joven marinero. Safo se suicidó arrojándose desde un acantilado en la Isla de Léucade. Aunque hay quienes no aceptan esta versión dado que no hay registros, el mito del suicidio de Safo junto a sus poemas en honor del amor lésbico y el feminismo dulce han marcado su obra de tal manera que se le considera la décima musa.

http://paolak.wordpress.com/2013/05/03/escritoras-suicidas/



Contemplo como o igual dos próprios deuses 
esse homem que sentado à tua frente 
escuta assim de perto 
quando falas com tal doçura, 
e ris cheia de graça. 
Mal te vejo 
o coração se agita no meu peito, 
do fundo da garganta 
já não sai a minha voz, 
a língua como que se parte, 
corre um tênue fogo sob a minha pele, 
os olhos deixam de enxergar, 
os meus ouvidos zumbem,
e banho-me de suor, 
e tremo toda, 
e logo fico verde como as ervas, 
e pouco falta para que eu não morra 
ou enlouqueça.

"A doce amiga", e um fragmento de Safo ( à uma mulher amada )


Minha doce amiga 
Tua boca me alicia e me prende
Enfeitiçando-me, me domina 
Me entrego ! 
Teus desejos são ordem.
Me devoras por inteira; te devoro também !
Me perco em teu corpo - quente....delicioso !
Me embriago em teu licor. 
Provo teu veneno sem no entanto desejar antídoto. 
Assim posso morrer nos teus braços. 
Mas de prazer...
...sentir o teu cansaço, 
Sentir teus seios salientes em minha pele. 
Deixe-me afogar nos teus delirios. 
Deixe-me mergulhar nos teus beijos. 
Deixe-me beber de tua fonte - abundante !
Escravizo-me em tuas paixões no espaço curto de uma noite,
Mas não quero fugir deste cárcere. 
Presa me vejo no laço de tua torre, 
No teu castelo de malícias. 
E nele, rainha absoluta, tu imperas. 

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Safo - à uma mulher amada

Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro! 
Quem goza o prazer de te escutar, 
Quem vê, às vezes, teu doce sorriso. 
Nem os deuses felizes o podem igualar. 

Sinto um fogo sutil correr de veia em veia 
Por minha carne, ó suave bem-querida, 
E no transporte doce que a minha alma enleia 
Eu sinto asperamente a voz emudecida.

Uma nuvem confusa me enevoa o olhar. 
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo; 
E pálida e perdida e febril e sem ar, 
Um frêmito me abala... eu quase morro ... eu tremo.




Maria Padilha das Encruzilhadas


NOITE MORNA - VENTO INCOMUM AGITA AS FOLHAS.
RUA DESERTA, DE POUCA LUZ,
O CASARIO ADORMECE NA PENUMBRA.
NO ASFALTO, UMA SOMBRA SE ESGUEIRA.
NA ENCRUZILHADA,
SALPICADAS SOBRE UMA PEÇA DE ROUPA,
GOTAS DE SANGUE CELAM O CONTRATO.
...A SOMBRA PASSA.
HÁ DUAS MAÇÃS,
UMA GARRAFA DE CONHAQUE...
...E A SOMBRA SE APROXIMA.
A LUZ DOS POSTES É AMARELA.
E BRANCA É A LUZ DA LUA QUE SE ESCONDE NAS NUVENS.
...VERMELHA , POREM, COMO FOGO É A AURA DE MARIA.
TALVEZ, NAQUELA ENCRUZILHADA ELA ESTEJA,
VAI PROVAR AS PARCAS IGUARIAS DA OFERTA MODESTA.
INDIGNA OFERTA DE FRUTAS E ALCOOL BARATO.
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UM RISO DE DESDEM – PADILHA SORRI !
NAS 7 ENCRUZILHADAS ESTACIONA!
COMO LILITH, POUSA E FAZ MORADA;
TEM 7 DESEJOS E OS DISTRIBUI;
EM SEU BANQUETE, OS MULTIPLICA E DIVIDE.
MARIA PADILHA DAS ALMAS -
A ENTIDADE VIVE !
EM 7 CEMITÉRIOS SEU NOME ECOA;
EM 7 ALMAS. NA NOITE SEU NOME VIBRA.
FLUTUA COM SEU MANTO VERMELHO...
...E ADORMECE EM ALGUMA PRAIA SELVAGEM.
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A SOMBRA SE REVELA - UM MENDIGO !
ELE SE APOSSA DAS FRUTAS DE MARIA,
E NAS SOMBRAS DA NOITE MORNA DESAPARECE;
SOB ALGUMA MARQUISE SE ACOLHE E SE ESCONDE,
LEVANDO A OFERTA BARATA...
...ANTES DESTINADA A PADILHA.



http://oespiritodeclaudia.blogspot.com.br/2011/12/maria-padilha-das-encruzilhadas.html

Fragmento de um poema de Safo


"Semelhante aos deuses 
Parece-me que há de ser o feliz mancebo que, 
Sentado à tua frente, ou ao teu lado, 
Te contemple e, em silêncio, 
Te ouça a argêntea voz e o riso abafado do amor. 
Oh, isso - isso só - é bastante 
Para ferir-me o perturbado coração, 
Fazendo-o tremer dentro do meu peito! 
Pois basta que, por um instante, eu te veja 
Para que, como por magia, minha voz emudeça; 
Sim, basta isso, para que minha língua se paralise, 
E eu sinta sob a carne impalpável fogo a incendiar-me as entranhas. 
Meus olhos ficam cegos 
E um fragor de ondas soa-me aos ouvidos; 
O suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor (...)


http://pt.wikipedia.org/wiki/Safo

http://oespiritodeclaudia.blogspot.com.br/2010/10/um-poema-de-safo.html

Coliseu




Ainda se erguem altas
As paredes nuas e frias do coliseu
Tão altas ainda se erguem !
Mas no atual mutismo de seus escombros
Não mais se ouve o vozerio da turba, o rosnar da fera.
Não mais se vê o soldado embriagado – indiferente.
O torpor de morte – o gladiador vencido.
Sons e imagens ficaram naqueles dias distantes.
Não se perpetuaram.
As paredes envelheceram;
Nossas memórias se anestesiaram.
Sob o véu dos séculos se escondem nossas culpas.
Não ressuscitamos tais fantasmas,
Eles jazem sepultos no subsolo deste túmulo que antes foi circo.
Mas revejo num quadro mental:
Carruajens elegantes,
Patrícios em festa,
O povo à espera dos portões que se abram,
O comercio improvisado ao redor.
O orgulho levantado bem alto – como os muros do coliseu.
A metrópole dos Césares despertava cedo para a festa !
Jogos, pasmo, sangue e morte.
Nossos olhos atentos
Entre pasmo e êxtase selvagem
Assistiam aos espetáculos
Ao gladiador agonizante e à fera acossada.

E em nossa marcha humana
Tantas vezes encontramos a violência, o terror,
E viemos de encontro ao presente.
Reencontramos esses muros
Falando de antigas glorias que agonizaram
No campo das lutas humanas.
Muros fantasmas – fantasma de nós mesmos.
E nossos olhos daquele tempo – hoje já desintegrados
Revivem hoje em espírito,
E seguem adiante conosco, tentando esquecer o passado;
Projetando o futuro.


A amiga, a amante.

Ayrton Senna


Nas estrada sinuosas vi meu destino, 
Meu pai me disse: "filho, supere seus limites" 
No inconsciente gravei: "Viva rápido, morra jovem !!!!" 
...e a morte foi minha companheira; "minha morte nasceu comigo, brincou comigo...(Mario Quintana)" 
...e correu comigo! 
Venceu curvas e superou limites, 
Travestida de belíssima ninfa, de alvíssimas vestes, 
Que com um misto de ternura e cinismo me convidava a desafiá-la. 
E sob essa estrela acumulei vitórias, 
E sob o signo de Alexandre, ganhei o mundo, 
Mas serei vencido por um muro, 
Assim como o macedônico foi vencido pela febre. 
A multidão anônima não acreditará, 
Pois seus heróis não podem ou não devem morrer; 
E quando minha ausência se fizer firme como meus troféus na estante, 
Lágrimas quentes das amantes abençoarão a TV, 
Não entendendo elas que a Morte as substituiu, 
E amparado em seus braços e seios de ninfa, 
Penetrando em suas entranhas, 
Lhe provarei o supremo orgasmo. 
Ponho o capacete e acelero a máquina que me levará a uma viagem sem retorno, 
Estou no asfalto - duzentos quilômetros por hora! 
Sinto-me livre, mas estou preso aos limites da estrada, 
Ao circulo vicioso das curvas como a alma humana esta presa ao círculo vicioso das reencarnações. 
E só aqueles que superam seus limites vencem esse círculo, 
E transformam numa reta as curvas sinuosas do destino. 
Firme piso no acelerador e supero mais uma curva, 
Agora são 250 quilômetros por hora !!!! 
Meu gólgota e minha cruz me esperam... ...em Imola me imolei !!!! 
E tomo do cálice, pois no vinho do sacrifício há mel dulcificante. 
E no êxtase máximo do passamento tomarei a morte em meus braços, 
E nos promiscuiremos nos alvos lençóis do etéreo 
Como amantes que há muito se procurassem, 
E derramarei meu sêmem no espaço! 
Acelero ainda mais: 300 quilômetros por hora! 
É chegado o momento da morte da semente nas entranhas da terra 
Para gerar vida !!! 
E o muro que me aguarda são os braços ciclópicos dos moinhos que venceram Don Quixote; 
E eis que a curva traiçoeira do destino se transforma numa reta! 
Já posso ver o muro mais adiante! 
É questão apenas de segundos... 

A morte, belíssima ninfa, vestes alvíssima, como noiva ataviada abre os braços e me sorri. 

"Doce companheira que esperei por toda vida, 
Receba-me em seus braços, ampara-me, 
Deixa-me repousar a cabeça dolorida em seus ombros." 

E enquanto meu corpo de carne se desagrega 
O infinito se abre diante de mim 
Como estrada imorredoura, contínua, reta, 
Para os desafios de uma eterna Pole Position.

Foto antiga




Pode ser melancólica a lembrança numa velha foto em preto e branco, 
Porém mais melancólico e triste pode ser uma manhã descolorida, 
Uma tarde sem brilho, 
Uma noite só, entre a janela e o copo, 
Uma música que reunia amigos 
Mas que agora apenas preenche o íntimo espaço vazio, 
Um passeio por lugares de antigas alegrias, 
Passos pelo asfalto de sonhos perdidos; 
Uma caminhada por vias de ilusões destruidas, 
Ruas onde a própria vida pode ter perdido seu rumo. 
Triste é o resto de uma vida em preto e branco, 
Procurando o colorido que feneceu 
Após aquela manhã inesquecível; 
Lembrança e vivência enternecedora 
Guardada no imo d'alma 
Mas que não mais voltará.

Vivendo


Andei sobre o pó daqueles lugares 
E sob o Sol daqueles dias. 
 - Vilas, ruas, corredores sombrios da Europa... 
...foram passarelas no angustiado desfile de minha vida na Terra. 
De velhos sonhos e antigos templos são minhas memórias. 
Muros altos, castelos, árvores milenares... 
Sinos que ainda dobram lembram velhos rituais de oração. 
A alma que ainda busca a Deus... 
Foge ainda do passado sinistro que ainda busca minh'alma. 
Andei sim por tais corredores e vilas antigas. 

Fiz este poema: 

Vivendo, morro cada momento. 
- Sobre o pó desta estrada de degredo 
- Sob o sol escaldante deste dia 
 Caminho, e a vida é morte ! 
Pois que vivendo, não vivo 
E morrendo, comigo me encontro. 
Meu eu, espírito que sou ! 
Acontecerá, quando o sol deste longo dia se pôr, 
Abrirá na noite o grande manto de estrelas 
- Incontáveis mundos e veredas outras 
- Onde não entrará o corpo de meu atual degredo . 
Descansará o amigo infatigável 
Devolvendo seus átomos à natureza. 
Eu, espírito, voarei pleno, nesta vida chamada morte, 
Descansarei desta morte chamada vida.
Pois que vivendo, não vivo 
E morrendo, torno-me eu - ganho a mim mesmo !

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A Harpa

A Harpa. 

 "Entramos. Ambiente simples e acolhedor. Móveis quase idênticos aos terrestres; objetos em geral, demonstrando pequeninas variantes. Quadros de sublime significação espiritual, um piano de notáveis proporções, descansando sobre ele grande harpa talhada em linhas nobres e delicadas." ("Nosso Lar" - André Luiz - Cap. 17) 

Retorno ao Nosso Lar, 
Volto à infância, venho em visita ao passado! 
Encontro ainda a mobília simples 
E quadros na parede como janelas, 
Abertas à paisagens divinas - parecem inundar de luz o ambiente. 
Há também um piano, e sobre ele, uma harpa. 
A Harpa! 
Instrumento atemporal - presença incômoda! 
- me Leva de volta à uma época ainda mais distante, - ainda mais recuada ! 
Lembranças adormecidas na minha casa mental ! 
Tenho medo de tanger a harpa ! 
Fazendo vibrar suas cordas poderei ouvir um som que me faça tremer, 
E recordar qualquer coisa longínqua, 
Mescla de pesadelo e doce sonho. 
Tenho medo de recordar caminhos esquecidos, 
No som de um instrumento que não perdoa passados, 
Qualquer coisa de escuros passados ! 
Alma culpada, 
Temo que meu passado se exponha como quadros na parede. 
Mas, que alegria: aqui eles são, em verdade, 
Imagens de caminhos abertos ao infinito. 
E uma luz branda e branca 
Em forma de vulto 
Convida-me a seguí-la. 
Será um anjo que há muito me espera? 
Deus mesmo em humana silhueta? 
 "O passado não importa" - diz o vulto -, 
"Para a alma redimida na escola do pó da carne !" 

Mas ainda assim tenho medo de tanger a harpa. 

 Janelas abertas, quadros vivos, de luz inundando o ambiente, 
Ampliando veredas para o infinito - janelas divinas ! 
Dentro do recinto, a mobília simples, o piano, a harpa - o passado! 
Lá fora, o futuro! 
Onde aquele Ser, de branda e branca luz, me sorrir, e me abre os braços amigos.

Ruínas

Amei, amei sim – meu único e grande erro ! 
Amei o quanto, onde e quando pude amar. 
Vitória dos desencantados – saber que ao menos pude amar. 
Até onde, quando e o quanto pôde minha alma ! 
Reabro agora um álbum de imagens distantes – no tempo. 
Próximas no coração. 
Fotos em cores vivas de um passado feliz. 
Eu, que agora me revelo num presente desbotado – em preto & branco. 
Abro os álbuns de lembranças antigas e recentes. 
Passado em cores; presente em cinzas. 
Tais cinzas nos desmascaram agora, 
Como medíocres e pálidos restos do que fomos, 
Como as ruínas de um castelo que antes foi esplendor. 
Como um lar antigo cujas paredes que restaram, não guardam mais segredos. 
Entre esses restos, em tais escombros, nos esgueiramos, 
Sombras tristes, agora fogem, talvez de si mesmas. 
Tentativa vã ? fugir do amargo presente que construímos. 
É tarde. Para nós o pêndulo parou - o tempo estanca ! 
Em minhas veias se esvai a vida. 
Num soluço, sussurro adeus. 
...e amei tanto; tanto ! 
Até onde, quando e quanto (não) podia, amei ! 
Levo comigo sua melhor lembrança. 
Guarde de mim fotos nas cores de um passado feliz. 
Esqueça o ser que agora estertora. 
Se possível, renasça, ressurja ! 
Não creio que comigo seja possível isso. 
Mas recomece se puder. 
De mim restam imagens de um passado colorido. 
 ...e escombros de um presente em cinzas.

Meretriz

Era uma meretriz na estrada 
Ataviada, bonita, perfumada. 
Tu me acenaste com um saquinho de moedas. 
Negócio aceito, compraste meu corpo 
Na estalagem de luxo 
Deitei-me nua sobre teu corpo lindo de homem. 
Com sede, chupei ávida teu membro 
Como nenhuma mulher antes te fez. 
Cavalguei teu pênis como uma amazona sobre um corcel; 
Rebolados violentos de meretriz. 
Cadela!!!! Tu gritaste. 
Cadela não, loba !!!! no cio. 
Para te devorar - sou loba, 
Meretriz, com sede de suor e esperma. 
Tu me penetras com teu membro, 
Eu te penetro com meu olhar. 
Tenho agora minhas garras em ti. 
Tu compraste meu corpo, mas eu roubei tua alma. 
Tenta fugir! porta fechada, chave perdida! 
Escravo meu agora tu és - do sexo !!! 
Não viste com quem te meteste? 
Com Padilha, a rainha pomba-gira! 
Logo com quem! 
Só Deus pode agora te libertar, mas Ele não quer - e nem tu mesmo queres. 
Tua mulher loba te devora todo, meu homem-animal. 
Meu corpo suga até a última gota do teu esperma 
E se banha no orvalho do teu suor. 
O dia amanhece e adormecemos abraçados - nus. 
Cansados de tanto gozar.

Maria Padilha

Sou Espírito e sou matéria. 
- me completo na matéria! 
Sou Sucubos, sou invasora. 
Sou a rainha Pomba Gira. 
Sou o anjo da sedução e da luxúria. 
Sou mulher e sou deusa. 
Tenho o prazer da carne no espírito! 
(...enquanto você tem o espírito mergulhado no prazer da carne) 
Venha ter comigo também. 
Venha conhecer meu espírito e minha matéria. 
Venha se banhar no meu suor. 
...se recarregar em minha energia 
...me conhecer... 
Sussurre meu nome em seu quarto. 
...grite meu nome em sua alma! 
Eu sou Padilha, 
Maria eu sou! 
Maria Padilha !!!!!!!!


Vives em mim


Vives em mim !
Estás em cada sonho meu;
Em cada sorriso, em cada lágrima;
Nas gotas da chuva, nos raios de sol.
Vives em mim !
Muito embora um vulto distante que não mais alcanço;
Seu rosto inesquecível não se dissipa;
A foto tão antiga quanto querida não se apaga;
O fantasma do passado, porém presente no presente, não se esvaece.
Tua lembrança se renova, sempre!
Tu és ainda a razão para que eu continue;
E continuo, na esperança de, n'Outro Dia, volver ao teu lado.
E te procuro - em cada caminho meu, te levo comigo.
E te reencontrarei, neste Outro Dia;
Reencontrando-te, poderei dizer (e te direi ): "Não te posso esquecer!".
Estás em cada amanhecer;
Em cada anoitecer.
Trago comigo teu nome.
Estás em meus dias monôtonos (porém longos e difíceis)
E faço deste amor meu ideal maior.
Tua lembrança me persegue - não me deixa só.
Fugiste do passado e te recolheste no futuro.
Como uma flor, não viveste muito (embora eterno seja teu perfume);
Mas lembrando-te, lembro um ser querido que me escapou das mãos;
Como um poema que deixei inacabado;
Um sonho que deixei desfeito!
Debruço-me assim em minha janela de recordações;
Na rua de minha alma há um desfile de memórias:
Dias felizes vêm, passam, e não voltam.
Mas no futuro incerto - meu destino - n'Outro Dia, O Tempo estacionará!.
Procure-me então a morte e estarei pronta!
Procure-me a Vida e nela entrarei!
Há um nome que sussurrarei neste longo dia; 
Haverá uma última lágrima que derramarei nesta infinitude; 
Uma voz que vibrará na acústica de minha alma;
Uma canção inesquecível neste horizonte de luz imortal;
O nome, o rosto, o vulto, a lembrança que carrego comigo;
Comigo estarão; comigo levarei;
E reencontrados, serão as mãos estendidas a me receber;
Braços abertos a me amparar;
Lábios amigos a me beijar,
 ...no pórtico da Eternidade.

Via Cruxis



 "Ele, porém, respondeu: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ao que ela disse: Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos."
(Mateus 15;26,27)

A tarde é cinzenta, porém quente;
Quente e empoeirada - a poeira das ruas que nossos pés sacodem.
Hoje é a sexta sagrada, É festa, vamos em bando!
Na velha Jerusalém se prepara a Páscoa.
No templo se oferece o cordeiro.
Fora há turbulência e vozerio; gritos e impropérios.
Um grupo explode: Crucifica-O !
E, acotovelando-se, assistem ao espetáculo - a passagem do Rei!
O festejo é sinistro - há um rastro de dor que seguiremos!
Caminhando entre a massa anônima Ele passa irreconhecível.
Vacila em seu andar cansado, e vem coroado de espinhos.
Há suor em sua fronte, sangue em seus ombros; ombros que sustentam o madeiro.
E de Seu sangue, pingos se misturam com a terra.
No monte, o altar da morte se ergue. É uma cruz o Seu trono !
Na placa: "Rei dos Judeus" !
Parece porem que a turba não O reconhece ou menosprezou seu Rei.
Mas colocada de pé a cruz, nela, Ele nos acolhe de braços abertos.
Neste instante caem por terra meus deuses,
...de prata, de bronze, do melhor ourives...
Despencam todos de seus pedestais,
Caem espalhafatosamente meu orgulho piegas,
Minha vaidade ridícula, meu egoísmo miserável.
E agora que eles se desmantelam, não me sobra nenhum outro deus,
Mas tão somente o Deus que o Cordeiro nos veio demonstrar.
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Nuvens negras, trovões e lampejos agora cobrem a cidade santa.
De cima do madeiro o pastor contempla seu rebanho desditoso,
Sorve o vinagre do sofrimento humano que nós bem merecíamos
E chora a sua dor íntima !
Ainda há gritos e impropérios, angustia e desolação, sangue e suor.
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Cordeiro de Deus, lembra-Te de nós!
Quando entrares no Teu reino, lembra-te de nós!
Como ladrões, estamos crucificados ao Teu redor
Por muito que fizemos,
Mas não vi em Ti nada que Te condenasse.
Lembra-Te de nós!
E não Te esqueças de nos enviar gotículas cristalinas da misericórdia de Teu Deus,
Para nos refrescar a alma cansada.
Não Te esqueças de nos recomendar a este Deus,
O Deus-misericórdia que vieste nos ensinar.
Abençoa-nos com Teu olhar - que enche de luz caminhos tenebrosos.
E lembra-Te de nós!
Na dimensão de Teus palácios siderais,
Porque como cachorrinhos esperamos comer das migalhas que caírem de Tua mesa,
E nos sentiremos ditosos,
E nos deitaremos aos Teus pés certos do alimento que virá, sempre!
Aureolados pela luz d'A Vida Teremos a água da fonte eterna -- inesgotável !
Nela saciaremos nossa sede milenar.
E cantaremos, como nos versos do "Rei dos Judeus": "O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"

Poema para Janis Joplin


Se possível não vá !
Em nenhuma outra dimensão te acolherás a não ser em nossas almas;
Nelas ainda vibrarão tua voz, teus registros.
Demora-te mais um pouco !
A morte te rouba o corpo! não apenas ele, mas também nossa juventude.
Vem ela em busca de nossos sonhos, despedaçando-os,
Mas não diz a morte o quanto te amamos e quanto ainda te queríamos.
Fica de ti um vazio imenso, um fosso em teu lugar !
Sem sepultura, teu corpo tornado em cinzas flutuará nas águas de alguma praia,
Mas nas águas tristes das lembranças vagaremos à tua procura como barco impelido por vento feroz.
Se pudesse, eu não te deixaria ir tão cedo,
Se pudesse impedir tua queda nos braços da eternidade, 
Nos meus braços tu continuarias, se eu pudesse ! 
Deteria a porta que se abre ampla para dimensões outras,
Tu não transporias agora os umbrais do além túmulo !
Eu não deixaria, se pudesse!
Se possível, não vá !
Não agora, ainda haveria tempo para mais algumas canções.
Em nossa juventude vibrou tua voz,
Ecoa agora no vazio triste das memórias o que de tão bom perdemos de ti.
A saudade é uma mortalha miserável e temos que vesti-la.
E nesta impossibilidade de trazê-la de volta, peço:
Não esqueças nunca dos olhares que foram atraídos pelos teus,
Dos amores – assumidos ou reprimidos – que o teu despertou naqueles dias quentes que não morrerão jamais.
Com o Sol que insiste em nascer cada dia, brilha um mundo que guardará tua lembrança.
Além das paredes deste quarto tua imagem permanecerá.
Enxuga minhas lágrimas, pois que eu te enxugarei o sangue nos lábios.
Tanto faríamos! Te levaria para fora deste hotel - para meu lar.
Um violão e LPs seriam nossos companheiros.
Em tua veia corria música – não deverias ter injetado qualquer outra substancia.
Alma inquieta ! Tu te perdestes em fantasias.
E agora, o que pagará por tua falta ? O dinheiro que ficou em tua mão ?
Bom, se não posso mesmo impedir teu retorno prematuro ao além,
E em definitivo nos desencontramos no quarto deste hotel,
Ficamos, nós que ainda te amamos, ouvindo-te no íntimo de nossas almas,
Como em uma última cantilena.
E nas águas que lambem a areia de nossa praia mais querida
Se perderão as cinzas de nossa mais querida cantora.
Até breve !

 (Janis Joplin foi encontrada morta caída no assoalho de um quarto de hotel, com os lábios ensanguentados e 4 dolares e 50 centavos na mão – morte extantânea por overdose de heroína. Seu corpo foi cremado e suas cinzas espalhadas no mar de uma praia californiana)